Era a última vez que via o escritório de Brazaville, pelo menos por agora.
As 9h30 fui para o aeroporto. Conheci o Yuriy e o Oleg, dois cimenteiros com quem já me tinha cruzado ontem, na obra de Brazaville, e que estavam de partida para Mandigou.
Fizemos as formalidades no aeroporto, o check-in. As malas iam carregadas de tesouras, x-actos e mais material de escritório que nos deram para levar para as obras, mas a segurança parecia pouco importada com isso.
Uma vez na sala de embarque, esperamos cerca de 1h pelo Voo.
O avião aterrou e foi feito o embarque. Parecia que tinha andado na guerra. Sujo, velho e com umas amolgadelas na chapa que nãos inspiravam muita confiança. Sentei-me no meu lugar favorito, em cima da asa. As pessoas foram entrando e o avião foi enchendo. A certa altura vi um caixão a passar. Os carregadores deixaram-no no banco de trás e prenderam-no com cintas.
"Medo!" Pensei eu.
A comitiva que seguia o caixão vinha a cantar e bater palmas. "E normal! Eles aqui choram o morto no primeiro dia e celebram nos outros 5" disse-me o Yuriy.
Dolisie, vista do avião |
"Tu para onde vais?" Pergunta o Oleg. "Para Dolisie" respondo eu.
O voo decorreu sem percalços. A viagem durou cerca de 30 min e foi animada pelos cânticos e as palmas do pessoal do funeral.
Para além de nós os três, haviam mais 3 brancos no avião. Dois Brasileiros e um Árabe.
Dolisie surgiu no horizonte. Do ar parecia uma aldeia com uma estrada e bairros de lata ao redor. Senti um friozinho na barriga. "Que fim do Mundo!" A paisagem envolvente era linda. Selva densa, montanhas, rios...
A aterragem foi tudo menos tranquila. Se não tivesse o cinto de segurança apertado bem que ia fazer companhia ao morto lá atrás. Foi a primeira vez que vi o avião a travar com o propulsor...
Propulsor |
Mal me senti segura desapertei o cinto e liguei ao Davide. "Estou aqui! Anda-me buscar" disse, com a voz ainda a tremer do medo.
Ao sair do avião senti o ar quente e húmido. Comecei logo a transpirar. "Txi, que braseiro!!"
Na sala de desembarque fui obrigada a lavar as mãos. As enfermeiras tiram-me a temperatura e levaram o meu passaporte. Entrei em pânico! O meu passaporte! "Excusez moi madame, Mon passaporte..." mas nada...
Encontrei o Davide junto ao tapete das malas. "Não sei do meu Passaporte" disse-lhe eu. "Não sabes? tás Fodi#@" disse-me ele em tom de brincadeira. "Não te preocupes, elas já to dão"
Esperamos quase 1h pelas malas. Quando saímos do aeroporto estava cheia de fome.
Aeroporto de Dolisie |
Entramos no carro e Dolisie começou a surgir ao som de música sertaneja. "Até aqui vou ter de ouvir esta treta!"
A cidade não era tão má como parecia. "Esta é a terceira maior cidade do Congo, não podia ser muito má", pensei eu. A maior parte das estradas são de terra batida e completamente irregulares, mas também há ruas com betuminoso. As pessoas pareciam que nunca tinham visto uma branca. O carro passava e ficava tudo a olhar. Que situação!
A base de vida de Dolisie fica a uns bons 5 km do aeroporto, no entanto, nestas estradas, o caminho parece que nunca mais acaba. Quando saí do carro pude finalmente ver o sítio onde ia passar os próximos seis meses.
Na frente da base de vida havia um muro com as palavras Bem-vindo. Do lado direito estavam hasteadas 3 bandeiras: Republica do Congo, Brasil e Portugal. Atrás do muro estavam os benditos contentores. Dois grandes na frente, o escritório e o refeitório, e os quartos vinham atrás.
Fui muito bem recebida pelo Eng. Franco, o Samuel (chefe de base de vida), e os engenheiros brasileiros da fiscalização: Leonardo e Vicente. O Samuel mostrou-me os meus aposentos e alertou-me para o facto de não haver água potável canalizada. "A água com que nós tomamos banho e lavamos as mãos é água do rio. Não é o melhor mas é o que há".
Fomos almoçar...
O meu contentor |
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