segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Chegada a Dolisie

Sete da manhã e já estava no escritório. Malas feitas e carregadas na carrinha!
Era a última vez que via o escritório de Brazaville, pelo menos por agora.

As 9h30 fui para o aeroporto. Conheci o Yuriy e o Oleg, dois cimenteiros com quem já me tinha cruzado ontem, na obra de Brazaville, e que estavam de partida para Mandigou.
Fizemos as formalidades no aeroporto, o check-in. As malas iam carregadas de tesouras, x-actos e mais material de escritório que nos deram para levar para as obras, mas a segurança parecia pouco importada com isso.

Uma vez na sala de embarque, esperamos cerca de 1h pelo Voo.

O avião aterrou e foi feito o embarque. Parecia que tinha andado na guerra. Sujo, velho e com umas amolgadelas na chapa que nãos inspiravam muita confiança. Sentei-me no meu lugar favorito, em cima da asa. As pessoas foram entrando e o avião foi enchendo. A certa altura vi um caixão a passar. Os carregadores deixaram-no no banco de trás e prenderam-no com cintas.

"Medo!" Pensei eu.

A comitiva que seguia o caixão vinha a cantar e bater palmas. "E normal! Eles aqui choram o morto no primeiro dia e celebram nos outros 5" disse-me o Yuriy.

Dolisie, vista do avião
"Ok! Já tinha ouvido falar em celebrar funerais mas nunca tinha visto uma celebração como esta tão de perto."
"Tu para onde vais?" Pergunta o Oleg. "Para Dolisie" respondo eu.

O voo decorreu sem percalços. A viagem durou cerca de 30 min e foi animada pelos cânticos e as palmas do pessoal do funeral.
Para além de nós os três, haviam mais 3 brancos no avião. Dois Brasileiros e um Árabe.

Dolisie surgiu no horizonte. Do ar parecia uma aldeia com uma estrada e bairros de lata ao redor. Senti um friozinho na barriga. "Que fim do Mundo!" A paisagem envolvente era linda. Selva densa, montanhas, rios...

A aterragem foi tudo menos tranquila. Se não tivesse o cinto de segurança apertado bem que ia fazer companhia ao morto lá atrás. Foi a primeira vez que vi o avião a travar com o propulsor...
Propulsor

Mal me senti segura desapertei o cinto e liguei ao Davide. "Estou aqui! Anda-me buscar" disse, com a voz ainda a tremer do medo.

Ao sair do avião senti o ar quente e húmido. Comecei logo a transpirar. "Txi, que braseiro!!"
Na sala de desembarque fui obrigada a lavar as mãos. As enfermeiras tiram-me a temperatura e levaram o meu passaporte. Entrei em pânico! O meu passaporte! "Excusez moi madame, Mon passaporte..." mas nada...

Encontrei o Davide junto ao tapete das malas. "Não sei do meu Passaporte" disse-lhe eu. "Não sabes? tás Fodi#@" disse-me ele em tom de brincadeira. "Não te preocupes, elas já to dão"

Esperamos quase 1h pelas malas. Quando saímos do aeroporto estava cheia de fome.
Aeroporto de Dolisie

Entramos no carro e Dolisie começou a surgir ao som de música sertaneja. "Até aqui vou ter de ouvir esta treta!"

A cidade não era tão má como parecia. "Esta é a terceira maior cidade do Congo, não podia ser muito má", pensei eu. A maior parte das estradas são de terra batida e completamente irregulares, mas também há ruas com betuminoso. As pessoas pareciam que nunca tinham visto uma branca. O carro passava e ficava tudo a olhar. Que situação!

A base de vida de Dolisie fica a uns bons 5 km do aeroporto, no entanto, nestas estradas, o caminho parece que nunca mais acaba. Quando saí do carro pude finalmente ver o sítio onde ia passar os próximos seis meses.

Na frente da base de vida havia um muro com as palavras Bem-vindo. Do lado direito estavam hasteadas 3 bandeiras: Republica do Congo, Brasil e Portugal. Atrás do muro estavam os benditos contentores. Dois grandes na frente, o escritório e o refeitório, e os quartos vinham atrás.

Fui muito bem recebida pelo Eng. Franco, o Samuel (chefe de base de vida), e os engenheiros brasileiros da fiscalização: Leonardo e Vicente. O Samuel mostrou-me os meus aposentos e alertou-me para o facto de não haver água potável canalizada. "A água com que nós tomamos banho e lavamos as mãos é água do rio. Não é o melhor mas é o que há".

Fomos almoçar...




O meu contentor




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