Partida |
Bon soir/ Boa noite
Esta é a mais recente realidade com que tenho de lidar. Saí de
minha casa, da minha cidade e do meu país para partir rumo à aventura de um
novo mundo.
A verdade é que sempre quis sair de Portugal mas nunca pensei que
viesse parar ao Congo.
Quando aceitei o trabalho preparei-me mentalmente para o pior
cenário possível. "Ok! Vou para África, para as obras, trabalhar com
pessoas que não conheço, vou ser a única mulher em estaleiro e a minha casa vai
ser um contentor. Vou morar no trabalho, viver para o trabalho, respirar
trabalho"
Penso que não seriam todos que aceitariam trabalhar sob estas
condições, mas eu aceitei. É a minha oportunidade para provar, a mim mesma, que
consigo ser Directora de Obra.
Parti na sexta-feira, dia 20 de Fevereiro. Para trás ficaram os
meus pais e a minha irmã. À medida que o comboio acelerava crescia a minha
ansiedade e rolavam-me as lágrimas pela cara. Várias vezes repeti: "Vai
ser duro, mas vais conseguir!" No aeroporto as horas nunca mais passavam.
Sozinha, sem internet optei por passar o tempo a pesar as malas e a trocar
euros por francos. Quando o avião levantou pensei: "Agora não há volta a
dar. Já fostes!"
Em Casablanca, onde fiz uma escala de quase 3 horas, conheci dois Portugueses que iam para o Congo, tal como eu. Um homem e uma mulher. A Mulher ia visitar o marido, também ele Engenheiro Civil. O homem trabalhava nas fazendas do Presidente Sassou, no Ohio. Chamava-se Custódio e foi-me apresentado um Congo completamente diferente daquilo que estava à espera. Nas palavras dele iam-se desenhando novos contornos de um Congo onde até era agradável viver. Um Congo com pessoas afáveis e trabalhadoras. A conversa durou horas...
Brazaville surgiu depois de quase 18h de voos e escalas. O meu
corpo dorido não me permitiu vislumbrar o horizonte pela janela do avião. Só
queria ir dormir, fosse onde fosse. Foram-me buscar ao aeroporto e deixaram-me
na casa onde ia passar os próximos dois dias.
"Isto não é assim tão mau" pensei eu. Tem avenidas com
betuminoso, tem luz, tem casas bonitas...."
Mal cheguei ao quarto, só tive tempo de avisar a minha irmã que tinha chegado e adormeci.
Três horas volvidas e sou despertada pelo telemóvel, "Allor
au travail!".
Ao pequeno almoço conheci as pessoas que estavam hospedadas na mesma casa que eu: Daniel, Duarte, Tiago e Nuno (que me tinha ido buscar ao aeroporto no dia anterior).
No caminho para o escritório a minha testa ia colada ao vidro. A cidade, ainda a acordar desenrolava-se pela janela.
Salta a vista a discrepância entre o local e o estrangeiro. Há
casas fantásticas e barracos a dividir a mesma rua, As estradas, que não são
principais, são esburacadas. Mas buracos a sério capazes de partir o eixo a um
Hummer. O transito é caótico. Regras de estrada: Tentar não bater! As ultrapassagens
são uma constante e consegue-se fazer ultrapassagens de ultrapassagens :) Cerca
de 90% dos carros que circulam nas estradas são táxis e os restantes são jipes
de empresas.
Chegamos ao escritório da empresa. Começa o trabalho
efectivamente. O e-mail já está a bombar. As 10h saio para o campo.
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