sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Partida

Partida
Bon soir/ Boa noite

Esta é a mais recente realidade com que tenho de lidar. Saí de minha casa, da minha cidade e do meu país para partir rumo à aventura de um novo mundo.
A verdade é que sempre quis sair de Portugal mas nunca pensei que viesse parar ao Congo.
Quando aceitei o trabalho preparei-me mentalmente para o pior cenário possível. "Ok! Vou para África, para as obras, trabalhar com pessoas que não conheço, vou ser a única mulher em estaleiro e a minha casa vai ser um contentor. Vou morar no trabalho, viver para o trabalho, respirar trabalho"
Penso que não seriam todos que aceitariam trabalhar sob estas condições, mas eu aceitei. É a minha oportunidade para provar, a mim mesma, que consigo ser Directora de Obra.


Parti na sexta-feira, dia 20 de Fevereiro. Para trás ficaram os meus pais e a minha irmã. À medida que o comboio acelerava crescia a minha ansiedade e rolavam-me as lágrimas pela cara. Várias vezes repeti: "Vai ser duro, mas vais conseguir!" No aeroporto as horas nunca mais passavam. Sozinha, sem internet optei por passar o tempo a pesar as malas e a trocar euros por francos. Quando o avião levantou pensei: "Agora não há volta a dar. Já fostes!"

Em Casablanca, onde fiz uma escala de quase 3 horas, conheci dois Portugueses que iam para o Congo, tal como eu. Um homem e uma mulher. A Mulher ia visitar o marido, também ele Engenheiro Civil. O homem trabalhava nas fazendas do Presidente Sassou, no Ohio. Chamava-se Custódio e foi-me  apresentado um Congo completamente diferente daquilo que estava à espera. Nas palavras dele iam-se desenhando novos contornos de um Congo onde até era agradável viver. Um Congo com pessoas afáveis e trabalhadoras. A conversa durou horas...

Brazaville surgiu depois de quase 18h de voos e escalas. O meu corpo dorido não me permitiu vislumbrar o horizonte pela janela do avião. Só queria ir dormir, fosse onde fosse. Foram-me buscar ao aeroporto e deixaram-me na casa onde ia passar os próximos dois dias.
"Isto não é assim tão mau" pensei eu. Tem avenidas com betuminoso, tem luz, tem casas bonitas...."


Mal cheguei ao quarto, só tive tempo de avisar a minha irmã que tinha chegado e adormeci.

Três horas volvidas e sou despertada pelo telemóvel, "Allor au travail!".

Ao pequeno almoço conheci as pessoas que estavam hospedadas na mesma casa que eu: Daniel, Duarte, Tiago e Nuno (que me tinha ido buscar ao aeroporto no dia anterior). 

No caminho para o escritório a minha testa ia colada ao vidro. A cidade, ainda a acordar desenrolava-se pela janela. 

Salta a vista a discrepância entre o local e o estrangeiro. Há casas fantásticas e barracos a dividir a mesma rua, As estradas, que não são principais, são esburacadas. Mas buracos a sério capazes de partir o eixo a um Hummer. O transito é caótico. Regras de estrada: Tentar não bater! As ultrapassagens são uma constante e consegue-se fazer ultrapassagens de ultrapassagens :) Cerca de 90% dos carros que circulam nas estradas são táxis e os restantes são jipes de empresas. 

Chegamos ao escritório da empresa. Começa o trabalho efectivamente. O e-mail já está a bombar. As 10h saio para o campo.   













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