domingo, 21 de junho de 2015

A nova função


Recentemente, e para juntar às minhas funções de adjunta, tive de assumir o papel de chefe de base de vida. O Samuel teve de ir ver outras bases espalhadas pelo Congo e eu fiquei encarregue desta.

Todos os dia de manha saio as 7h da base de vida, venho à aldeia, apanho os cozinheiros e vou ao mercado fazer as compras necessárias.


No primeiro dia ia super entusiasmada, tenho que admitir, umas horinhas longe do stress da obra sabiam-me pela vida. 
Apanhei o grand Joel, na encosta, à entrada da cidade, e depois segui para a casa do petit Joel.

- Mamã!- disse o Grand Joel - tu não tens trabalho? Isto não é trabalho de Engenheira.
- Deixa lá - disse eu - Eu chego para tudo e depois está la o Davide a tomar conta da obra. Vocês também não demoram muito...

Apanhamos o Juju, 5 minutos depois e fomos em direcção ao mercado. Curiosa, achei que seria interessante entrar e conhecer todos os cantos a casa.
Arrependi-me no momento em que entrei no espaço. Havia um cheiro no ar a peixe e legumes podres... Não sei como explicar mas pensem em algo mau.
Os mosquitos e as moscas estavam concentrados a volta das frutas e das carnes. 
Na minha inocência, no meio daquele mercado, vi uma fruta preta e achei interessante.

- O que é isto? - perguntei eu à medida que esticava a mão para apanhar a fruta.

Conforme a minha mão se aproxima da fruta vejo uma nuvem de mosquitos a dissipar-se no ar. Na bancada ficou um pequeno safou.

- Joel - disse eu para o cozinheiro - Não há outro sitio para comprar verduras?
- Há, mas ainda é pior que este. O Samuel prefere comprar as coisas aqui. - disse ele com ar de: é o que temos.

Fizemos as compras mas reparei que os preços estavam bastante inflacionados face ao preços que o Samuel normalmente me apresentava.
A certa altura decidi ficar para trás, enquanto os cozinheiros iam comprar verduras.
Quando chegaram à minha beira só me disseram:

- Não andes à nossa beira. És branca e os preços sobem muito por tu estares aqui.
- Pois... Também já me tinha parecido- disse eu.

A partir dessa altura não entrei mais no mercado com eles. Eu dava o dinheiro e eles iam fazer as compras. no final diziam o que tinham comprado e qual o preço. Todos os dias eu comprava os preços e eram sempre os mesmos, quase metade do que eu tinha pago na vez que tinha ido com eles.


Passaram-se semanas e todos os dias o meu trabalho era o mesmo: apanhar os cozinheiros, deixa-los no mercado e ficar no carro a tirar fotografias ou a ver os e-mails de trabalho.


Havia no entanto uma parte divertida de ir às compras. A população ficou-me a conhecer "A branca de Dolisie" e às vezes ofereciam-me coisas: Abacates, safous... Coisas que por vezes comia e outras vezes dava aos meus novos amigos:



Safou - oferecido no mercado e cozinhado pelo juju
Salada de Abacate feita pelo Grand Joel


Papaias (também oferecidas)

A equipa da cozinha, que entretanto cresceu com a chegada do Stephan

Terminada a correria do mercado, as 10h estava de volta ao escritório para me preocupar com a Obra.

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