segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Poto Poto

A vida no Congo estava, claramente, muito mais simples agora.
De manhã saía de casa cedinho, parava na pastelaria em frente à torre Nbembe, na baixa de Brazaville, tomava um nespresso e comia um "chausson de pomme" e às 8h estava a abrir o escritório.
Obviamente que, onde andava eu andava o Fábio. Apesar de ele ser o meu chefe tínhamos uma relação fixe. Eu via-o quase como um irmão mais velho.

Ao nosso ritual matinal começaram-se a juntar o restante pessoal do escritório. A certa altura demos por nós e estávamos todos a tomar o pequeno almoço à mesma hora, desde o DG até ao contabilista. Só os expatriados podiam participar neste ritual visto que 500 francos, cerca de 1 euro, davam para a maior parte do pessoal do escritório, almoçar e jantar.

A vida corria-me bem. Tenho de admitir.
As 10h se houvesse RIM's para despachar, ou seja, material para comprar, lá ia eu ao mercado Poto-Poto, com o Fábio ou com o Rodhin. Não conseguia ir sozinha, tinha medo de me perder.

Na verdade o Poto-Poto era um bairro onde se concentravam a maior parte das "lojas" da cidade.

Marie do Poto-Poto e o bairro por trás
Encontrávamos de tudo. Tínhamos era que saber procurar.

Estava sempre cheio de pessoas e tínhamos que ter cuidado com os assaltos.

Até comida podíamos encontrar no Poto-Poto.
O peixe seco - o bacalhau Congoles


As famosas pilhas de colchões


 Enfim, se soubéssemos onde procurar, o Poto Poto era um mundo. Caso contrário, dava connosco em doidos.
Tenho que admitir que me custou a adaptar a tanta gente, tantas tendas com tantas coisas, tantos vendedores chatos a querer impingir o produto a todo custo....
Se não fosse o Rodhin, nem eu nem o Fábio conseguíamos fazer as compras que precisávamos.

Claro que foi uma questão de habituação. Passados uns tempos já conseguia encontrar o que queria. Ainda assim, ir sozinha para o meio do Poto Poto, não era a melhor coisa de sempre.
Muita gente concentrada, muita confusão... A probabilidade de "desaparecer" ali no meio era muita. E, por muito pacífica que tenha sido a minha estadia no Congo, não aconselho a confiarem de mais.
O assédio é imenso para todas as mulheres, então para as mulheres de pele mais clara....
O truque é fazer-nos de estúpidas e rir ou então dizer que não percebemos.

O problema é quando percebemos e temos o sangue quente. Uma altura estive quase para esbofetear um senhor que vendia lâmpadas porque começou a dizer ordinarices, em lingalá, e eu percebi algumas delas.
Mais uma vez, se não fosse o meu Rodinhas....

Lá para o meio do mês de Agosto o departamento de compras foi alargado a mais um membro. O Gil juntou-se à nossa equipa e à nossa casa. Mas não por muito tempo.

Um certo dia o nosso DG veio falar comigo para ver se queria mudar de funções. Aceitei logo. Ia finalmente voltar à obra.
A partir deste dia já não fazia mais compras. Agora era responsável pelo controlo de custos de todas as obras. Fixe!!!! Vamos conhecer as outras obras, pensei eu!


Nota; Nenhuma das fotos colocadas neste "post" são da minha autoria. Infelizmente tinha amor demais ao meu telefone. Os congoleses não gostam de fotos, ou melhor, não gostam de fotos ao ambiente o que é perfeitamente compreensível dadas as condições em que vivem.



Sem comentários:

Enviar um comentário