sábado, 7 de março de 2015

A cidade

Dolisie é a terceira cidade mais desenvolvida do Congo, no entanto, e fazendo a comparação com Portugal, parece que está desfasada uns 50 anos. Ok, há televisão e carros e água canalizada, mas fora isso...

A mentalidade das pessoas é absolutamente retrógrada. As mulheres, até casarem, são praticamente violadas com os olhares dos homens de todas as idades. As suas abordagens davam direito a prisão em Portugal. No entanto, depois de casadas são tratadas como lixo e burro de carga.
Se o marido for "catador", sou seja, se sobrevive à custa do que apanha nos campos, ele anda com a catana na mão e ela anda com um cesto à cabeça, carregada com tudo o que o homem ache que vale a pena vender.

Se o marido trabalhar nas obras, por exemplo, a mulher só trabalha se o dinheiro não chegar para tudo e se o marido for homem o suficiente para assumir que precisa de ajuda.
De resto, o papel das mulheres é criarem os filhos, manter a casa em ordem, fazer compras e eventualmente vender alguns produtos que façam em casa, para passar o tempo, mas só com a autorização do marido.



As condições de higiene são precárias. Não há a cultura do banho diário. O cheiro de transpiração, já de si extremamente forte, é misturado com latas e latas de spray desodorizante. Lavar? Só as mãos e a cara, e quando lavam. A roupa é lavada nos rios de água verde e se der é usada, a mesma roupa, durante toda a semana.

Os estabelecimentos comerciais são autênticos reservatórios de pó. O arroz é comprado ao quilo e cerca de 20% do peso é atribuído ao pó acumulado no saco. Outros 10% devem estar associados a baratas e larvas que crescem no meio dos grãos de arroz, expostos ao sol nas lojas do mercado. 
O nosso arroz é comprado a Angola, embalado. Prefiro não ter o "prazer" de encontrar "carninha" no meu arroz.

Mas e os bancos? Nossa!!! A primeira vez que entrei num banco, juro que me senti num filme de cowboys dos anos 60. Ok, não é bem um Banco, é uma agência de transferência de dinheiro: Chardon Farell. Todas as agências estão pintadas de cor-de-rosa e verde -água, tanto por fora como por dentro. À porta há um segurança armado até aos dentes. Lá dentro há uma sala de recepção que é dividida da sala do dinheiro por uma parede de madeira com janelas de vidro fechadas com grades, tal como nos filmes. As pessoas dirigem-se ao balcão, preenchem a ordem de transferência em papel químico e aguardam que as chamem.
Quando a transferência é de elevada quantia, somos convidados a entrar para uma "salinha" à parte, onde fazemos a contagem do dinheiro.
Não há um único aparelho electrónico, para além do ar-condicionado. É tudo feito à mão. Agora pensem: O dinheiro do Congo é constituído por 5 notas: 10 000FCFA (+/- 15 euros); 5000 FCFA (7.5 euros); 2000 FCFA (3 euros); 1000 FCFA (1.5 euros) e 500 FCFA (75 centimos). Sempre que lá vou, raras são as vezes em que levanto menos de 1 milhão.... Façam as contas ao tempo que se perde...

No entanto há um pedacinho de civilização nesta cidade. A pastelaria SAB. Os bolos são deliciosos, e as pizzas? Hum!!! Os donos são um casal de Franceses que se apaixonaram pela simplicidade do Congo. 
É aqui que vimos todos os Domingos para lanchar e às vezes jantar umas saborosas pizzas.







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