quarta-feira, 29 de julho de 2015

De Novo em Brazaville

A chegada a Brazaville era para mim o fim da minha experiência no Congo.
Tinha falhado, não conseguia mais ficar alí, estava cansada.



Cheguei a Brazaville por volta da 13h00. Apanhamos um taxi e fomos para a base de vida, ou já não nos soubéssemos desenrascar no Congo.
Na base de vida fomos recebidos por um sorriso de orelha a orelha de uma mulher com aspecto jovial e simpático. Afinal não era a única mulher branca a trabalhar na empresa, Ali estava mais uma.

- Olá meus amores! - cumprimentou ela com alguma euforia escondida na voz - Como estão? Como está Engenheira! - disse ela dirigindo-se agora para mim - Já tá melhorzinha?
- Sara - disse eu - Podes-me chamar de Sara - E sim, estou bem agora. Já mudei de ares!

Almoçamos os quatro. Os três que tinham vindo de Brazaville e ela. Conversamos como se já nos conhecesse-mos à anos.
Ela era a Mimi, uma rapariga da minha idade, que já tinha estado um boa temporada em Angola e que agora tinha ido para o Congo para ser Chefe de base de vida da nossa obra de Brazaville.

As 14h fui encaminhada para o escritório.
"Vou assinar a rescisão e vou-me embora" pensava eu.
-Sabes que as coisas mudaram por aqui não sabes? - dizia-me o motorista que eu tinha conhecido nos meus primeiros dias de Congo.
- Mudaram Pápá? Ce vrai? Para melhor? - perguntei eu.
- Sim mãmã. Para muito melhor!
- Espero bem que sim Papá! Vocês merecem!

Demora-mos quase 1hora a chegar ao escritório que era do outro lado da cidade. Brazaville aparecia agora, aos meus olhos, como um paraíso, um poço de civilização. Estradas, carros, trânsito.



Por outro lado a saudade do Congo começava ja a nascer. Vou deixar de ter este calor fantástico, vou deixar aqui os meus amigos, as pessoas que precisam de mim...

Cheguei ao escritório e vi o director geral a sair.
- Então não ia ter reunião com ele? - perguntei eu.
- Tem calma. Senta-te ali naquela secretária, toma um café, se quiseres, que nós já te chamamos - disse-me o Daniel. Um dos funcionários do escritório.

 Sentei-me, abri o monitor e vi a foto da minha afilhada. Que saudades eu tinha de Portugal. Liguei a minha Mãe.
- Mãe! Já estou em Brazaville. A correr bem Amanhã já tou aí. Vai-me buscar ao aeroporto que eu tenho a mala toda partida.
- Tem calma Sara - dizia a minha Mãe do outro lado- Nós estamos aqui para ti.
- Vou chegar a Portugal e vamos gastar todo o dinheiro que ganhei aqui em férias. Vocês querem ir aonde?
- Calma! Guarda o dinheiro que te pode fazer falta.

- Sara - Chamou--me o Daniel - Podes entrar.
- Mãe, já te ligo - disse eu e desliguei o telefone.

Entrei na sala de reuniões. La dentro estavam o Franco, o patrão, o chefe de recursos humanos, e duas pessoas que não conhecia.

-Sara -  apresentou o chefe de recursos humanos - este é o novo director geral da empresa e este é o responsável pelo departamento de compras, o Fábio. Temos uma proposta para te fazer.

Passei quase duas horas na reunião. Basicamente não me queriam deixar ir embora. Estava-se a fazer ajustes no organigrama da empresa e tinha aberto uma vaga para as compras. Como eu já tinha experiência perguntaram-me se queria fazer parte desta nova equipa.

- Não vou embora! - disse eu visivelmente emocionada.
- Se quiseres vais agora duas semanas de férias e quando voltares adoptas estas novas funções - disse o patrão.
- Não, não. Eu fico. Prefiro ir de férias em Setembro. Mas onde é que eu vou morar?
- Nesta fase ficas na casa do pessoal do escritório e depois vamos ter de arranjar uma casa para vocês.

Saí do escritórios aos pulos. Ia ficar, ia ficar!!!!!
E melhor de tudo, ia ficar em Brazaville! Havia coisa melhor?

Liguei a minha mãe e disse-lhe que já não voltava a Portugal. Só em Setembro!!
- Se é isso que queres, força!- disse a minha Mãe do outro lado.

Cheguei cá fora e vi o sorriso da Miriam.
-Vou ficar Miriam, vou ficar!!!
- Boa, vamos jantar fora hoje?

E fomos. Mami watta (sereia em Lingalá) era o nome do restaurante. Nessa noite fomos quase todos jantar fora. Era o ínicio de um novo ciclo para mim.




Este restaurante à beira rio, tinha uma vista fantástica sobre Kinshasa, a capital da Republica Democrática do Congo. Estas são as duas capitais mais próximas do mundo, com 1.5 km de rio a dividi-las.